terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sempre Fica Perfume Nas Mãos Que Oferecem Rosas



A noite se fazia linda...A lua cheia, tal qual noiva entrando na igreja, espalhava seu véu branco por sobre as Campinas, as pradarias e dava brilho especial aquele jardim florido onde as gérberas e adálias bailavam ao sabor da brisa.

Pétalas orvalhadas brilhavam a luz do luar, fazendo do roseiral um manancial de energias que exalavam, enchendo o ar com seu perfume.

Espremendo-se pelas frestas do rancho, o cheiro do jardim entrava e coçava o nariz da negrinha, fazendo-a espirrar...e acordar.

Era apenas um pretexto que Preta Rosa usava para se fazer ver, mesmo estando em corpo fluídico. Sorrindo, com seus alvos dentes que contrastavam na pele negra, e exibindo uma rosa atrás da orelha, o espírito amigo soprava na testa da negrinha, fazendo-a dormir novamente, para que nessa brincadeira de esconde-esconde, pudesse tirá-la do corpo físico e novamente juntas, voarem ao sabor do vento em busca de outros tantos espíritos, para que pudessem servir em qualquer paragem, sempre em nome do grande Zambi.

Era rotineiro esse procedimento e Preta Rosa ficava muito feliz em poder contar com a preciosa ajuda da negrinha que no corpo físico era paraplégica, mas que sabia voar quando saía dele. O jardim bem cuidado que ladeava o rancho humilde, auxiliava a descida das boas energias e seguidamente era ali, naquele jardim florido, que a espiritualidade se abastecia das energias florais e curativas de que precisavam nos trabalhos de cura.


Preta Rosa, antes de chamar a negrinha, sempre abastecia sua cesta, com as flores que gostava de espalhar no caminho por onde andava. Flores que existiam além da matéria, naquele manancial sagrado.

A negrinha, quando menina foi duramente castigada pelo feitor, fruto das peraltices naturais da infância, mas que não eram admitidas nas crianças negras. Ferida duramente ao final das costas, paralisou as pernas e nunca mais caminhou. Mas para comer era obrigada a trabalhar, então arrastava-se sob o efeito de dor quase insuportável, para cumprir tarefas que Sinhá lhe ordenava. Passava o dia a esfregar o chão da casa grande e quando a noite chegava, seu corpinho magrela amortecia de cansaço.


Preta Rosa, em encarnação anterior, havia sido sua madrinha e guardava pela negrinha um afeto muito especial. Sabia que a dura pena a que foi submetida nesta vida era, na verdade, um aprendizado ao seu espírito endurecido no orgulho e na teimosia, como sabia também que na próxima encarnação a negrinha viria de pele branca e serviria para manifestá-la junto aos homens da terra.

Espíritos afins, uma vivenciando ainda os aprendizados da carne, outra evoluindo no mundo astral, são guerreiras de Zambi e em noites de luar, pelos céus deste Brasil, espalham rosas e perfumes por onde passam, cantarolando os versos que Preta Rosa gosta de fazer.


História contada por Vovó Benta
Por Mãe Leni W. Saviscki
Dirigente do Templo De Umbanda Vozes De Aruanda
(Terreiro Filiado ao Centro Espiritualista Caboclo Pery - CECP)



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