segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Capoeira e Religião


A capoeira talvez seja a expressão do que há de mais brasileiro em termos de atividade física, já que se trata de uma luta criada no Brasil por escravos de origem africana. Isso é tão significativo que no exterior a capoeira é conhecida como “brazilian martial art”, ou arte marcial brasileira. Por ser praticada em grupo e acompanhada de música constante que impõe ritmo aos movimentos, muitas pessoas a confundem com um jogo ou algum tipo de dança, mas como já disse Mestre Pastinha: “Capoeira Angola é, antes de tudo, luta, e luta violenta”.

O termo capoeira significa “o mato que nasce depois do desmatamento”, provavelmente porque era praticada entre esses matos, com os lutadores próximos ao chão, para não serem descobertos pelos seus senhores. É preciso dizer que nessa época a capoeira era uma prática proibida, pois com os escravos treinando sua forma de defesa pessoal, poderiam trazer problemas para aqueles que se consideravam seus “donos”. No entanto, ainda que proibida, a capoeira nunca deixou de ser praticada e ensinada.

Em sua forma original, como já mencionado, a capoeira era uma luta lenta jogada muito próxima ao chão, muito diferente daquela capoeira que é ensinada em academias ou jogada nas praias do Rio de Janeiro: a capoeira regional. Foi em meados do século XX que houve essa ruptura, resultando na prática da capoeira angola praticamente restrita aos guetos baianos. A capoeira regional apresenta movimentos mais acrobáticos, é jogada em pé e tem regras específicas, elemento característico de um esporte. Outra diferença importante entre esses dois tipos de capoeira é o modo como um membro se torna mestre: na capoeira regional, conforme os praticantes vão desenvolvendo melhor suas habilidades, aprendendo golpes diferentes e pensando sobre esses golpes, eles vão sendo graduados por meio de um cordão, em que cada cor representa um estágio em que o praticante está classificado, assim ele vai adquirindo novos cordões até se tornar um mestre. Na capoeira angola o processo é bastante diferente: após muitos anos de prática e de dedicação ao mestre e à capoeira, o praticante recebe do mestre um lenço, que representa que esse discípulo está pronto para ser mestre. Assim, na capoeira angola, a formação do mestre depende exclusivamente da vontade do mestre que ensina.

Outra característica importante da capoeira é a música. A música é sempre tocada por membros da roda que se revezam, e é acompanhada de uma regra fundamental: os membros da roda sempre precisam responder ao canto, também chamado de ladainha. As ladainhas são acompanhadas pelo toque de alguns instrumentos: pandeiro, atabaque, caxixi, agogô e reco-reco.

Talvez, o mais interessante das ladainhas sejam as suas letras que remetem ao cotidiano dos escravos, ao momento da roda de capoeira, aos deuses do candomblé (religião de origem africana) e do catolicismo, e à relação entre homem e mulher. Seguem alguns exemplos:

•“Eu vou dizer ao meu senhor que a manteiga derramou/A manteiga não é minha/A manteiga é de ioiô” (ladainha de cotidiano, lembrando dos escravos que trabalhavam na cozinha);

•“Oi sim sim sim/ Oi não não não” (ladainha de roda, cantada para quando a luta está empatada); •“Salomé, Salomé/ Eu já vi homem barbado apanhar de mulher” (ladainha de roda, cantada para quando tem algum homem perdendo de uma mulher);

•“Sai sai Catarina/ Saia do mar venha ver Idalina” (ladainha religiosa em homenagem a Iemanjá);

Percebe-se, então, que a capoeira é muito mais do que uma simples atividade física: ela é um elemento definidor de identidade brasileira. Ela agrega religiosidade, movimento corporal, música e história, tudo isso em uma única prática. Por isso, quando seu professor for ensinar capoeira à sua turma, cobre que ele não ensine apenas os movimentos, mas que ele também aborde o contexto cultural em que esses movimentos estão envoltos, assim sua aula será muito mais completa.

E para terminar o texto, a ladainha com a qual as rodas de capoeira terminam: “Adeus, adeus/ Boa viagem/ Eu vou-me embora/ Boa viagem/ Eu vou com Deus/ E Nossa Senhora”.

Por Paula Rondinelli Colaboradora Brasil Escola

A Capoeira pode ser dividida em duas linhas: Angola e Regional.

A Capoeira de Angola é a capoeira mais antiga, clássica, tendo sido criada pelo Mestre Pastinha. É jogada num ritmo mais lento. Os negros treinavam a luta em segredo nas senzalas, fingindo ser esta uma dança executada ao som do berimbau. Os golpes praticados durante a luta imitam os movimentos dos animais.

A Capoeira Regional foi criada pelo Mestre Bimba, entre as décadas de 30 e 40, é a luta que mistura os golpes da capoeira de angola com os golpes de lutas regionais ao som do batuque. Para esta modalidade, o Mestre Bimba criou um código de ética e instituiu o uniforme branco. A graduação consiste na troca de cordões que têm a cor da bandeira brasileira: verde, amarelo, azul e branco.



A Capoeira surgiu na época da escravidão e a tradição nos mostra que é genuinamente brasileira, pois existem lutas na África, mas nenhuma semelhante à nossa. Antigamente, a capoeira era relacionada à malandragem e religiões. Era considerada uma forma de luta disfarçada em dança e ritual, onde associavam a luta às músicas e ritmos de candomblé, religião dos negros escravos. Capoeira era o nome dado aos locais de mato baixo, entre árvores, onde os escravos fugitivos treinavam este tipo de luta e daí o nome. Esta prática foi levada para as ruas após a abolição da escravatura, quando foi proibida por lei e revogada somente em 1930, começando a ser praticada dentro de recintos fechados.

A influência das religiões africanas na Capoeiragem, sem sombra de dúvida, ambas viajaram juntas nos navios tumbeiros; sem sombra de dúvida, a capoeira tradicional está impregnada, até a alma (e também ao espírito) de rituais religiosos africanos. Valendo ainda destacar, sem esgotar o assunto, que há muita beleza e, por mais estranho que possa aparecer, muita filosofia em tais rituais. Infelizmente, até agora não nos chegou nenhum, absolutamente nenhum artigo sobre este fascinante tema. O que temos assistido, lamentando muito, é uma discussão estéril, sem pé nem cabeça, pela internet, troca de e-mails furibundos, uso suspeito e mal feito de algumas expressões secretas, e nada mais. Espero que este quadro, rapidamente, seja revertido, até porque, outras religiões tenderão a ocupar este espaço vazio, e sem a mandingueira estratégia da Igreja Católica que aceitou e até alimentou um sincretismo que permitiu duas religiões conviverem, pacificamente, numa mesma Roda de Capoeira. Mas, no futuro, talvez surja uma religião menos flexível, que ocupe este importante espaço e, simplesmente, expulse os ritos africanos das rodas. O que será lamentável. Não podemos, por outro lado, parar o Mundo, parar a Vida, parar a Roda. Não podemos, por exemplo, ignorar um bom texto que nos chega, mesmo não concordando totalmente com os argumentos e as conclusões apresentadas. No caso, nosso dever é tão somente publicar a matéria, colocar a matéria na Roda e deixar o jogo fluir.

O espaço está, pois, aberto para todas as religiões, começando pelas africanas, passando pela Católica, abrangendo todas as demais.


Veja o depoimento do Mestre Decânio:

“Mestre Decânio, o mais idoso "Filho de Bimba" ainda vivo, decano da Capoeira Regional, médico e filósofo, pesquisador da capoeira, contribuiu recentemente com interessantes observações sobre a questão da origem da capoeira. Estudando os ritmos do candomblé, percebeu que o ritmo básico de Logunedê corresponde às batidas do pandeiro na capoeira.

Podemos concluir:
"O candomblé é a fonte mística... donde brota a magia da capoeira!"
Há grande similitudes entre os movimentos da capoeira e os movimentos das danças rituais do candomblé, e outras semelhanças: no candomblé, o ritmo dos atabaques é o nexo entre "os Orixás e o Vodunce", assim como na capoeira, o estilo do jogo acompanha a musicalidade do toque.

A capoeira é o processo complexo constituído pela fusão ou caldeamento de fatores de várias origens... dos africanos herdamos os movimentos rituais fundamentais do candomblé...”

www capoeiradobrasil.com.br



Axé a todos e uma ótima semana!

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