segunda-feira, 12 de novembro de 2012

MARIA PADILHA - De Afro a Castela





Ela hoje se apresenta como pomba-gira, ligada aos ritos africanos difundidos no Brasil  principalmente a partir dos terreiros da Bahia e do Rio de Janeiro, mas Maria Padilha, na verdade, nasceu na Espanha, onde foi amante do rei Dom Pedro I de Castela, conhecido como “o Cruel”, ou “o Justiceiro”.

Maria de Padilla

Segundo a historiadora Lucienne Mazenod[1] (1996, p. 785), Dona Maria de Padilla, também conhecida como Maria Padilha, filha de Juan Garcia de Padilla e Maria Gomez de Henestroza, nasceu em Palencia, por volta de 1334, e faleceu em 1361, na mesma cidade.

O Encontro com Dom Pedro I de Castela
Maria de Padilla foi apresentada a Dom Pedro I por intermédio de João Afonso de Albuquerque, o Conde de Albuquerque, mordomo-mor de Maria de Portugal( rainha de Castela) e artífice do casamento de Dom Pedro I de Castela, com Branca de Bourbon. Maria de Padilla tornou-se amante de Dom Pedro I de Castela e passou a influenciá-lo nas mais importantes decisões. Foi graças a Maria de Padilla, em 1353 que Dom Pedro I de Castela, o jovem rei de 19 anos, escolheu governar como um autocrata apoiado no povo, casando-se com Branca de Bourbon como forma de fortalecer os laços políticos criando um aliança entre Castella e França.

O Casamento de Dom Pedro I e Branca de Bourbon
Mesmo contra a vontade da própria Branca de Bourbon, no dia 25 de fevereiro de 1353, ela chega em Valladolid, com seu séquito chefiado pelo Visconde de Narbona, para assumir seu lugar como esposa de Dom Pedro I de Castela, mas Pedro I encontrava-se em Torrijos com Maria de Padilla prestes a dar à luz. Em 3 de junho, do mesmo ano, houve a cerimônia da boda de Pedro I de Castela com Branca de Bourbon, apadrinhada por Dom Juan Afonso de Albuquerque e sua tia Leonor de Aragão. Três dias mais tarde, após romper a aliança com a França, o rei Dom Pedro I abandona sua esposa e volta se dirige a Puebla de Montalbán, onde Maria de Padilla se encontrava.

O Casamento Secreto de Maria de Padilla
Após uma breve reconciliação com seu amado Dom Pedro I, Maria de Padilla parte, juntamente com Dom Pedro I de Castela, para Olmedo, onde se casaram secretamente. Depois do casamento com Dom Pedro I de Castela, Maria de Padilla muda seu nome para Maria Padilha para adequar-se a pronúncia dialética de Olmedo. Nascendo, assim a linhagem da família Padilha. A Casa Real de Padilha.
Os Filhos de Maria Padilha e Dom Pedro I de Castela
Dª. Maria Padilha e Dom Pedro I de Castela tiveram quatro filhos.
§  Beatriz, infanta de Castela (Córdoba, 23 de março de 1354-1369 Tordesillas), freira na Abadia de Santa Clara;
§  Constança, infanta de Castela (Castrojeriz, Castela, julho de 1354-24 de março de 1394 no castelo de Leicester) casada em 21 de setembro de 1371 ,em Roquefort-sur-Mer, naAquitânia, com João Plantageneta de Gaunt, João de Gaunt ou João de Gand (Flandres 1340-1399), Duque de Lencastre, filho de Eduardo III de Inglaterra e Filipa de Hainaut, viúvo desde 1369 de Branca de Derby. Foi pretendente de 1372 a 1387 ao trono castelhano, chegando a se intitular “Rei de Castela”. Teve uma filha, Catarina de Lancaster ouGaunt (morta em 1418) que em 1388 casou com Henrique III de Castela (morto em 1406), irmão de Fernando III de Antequera, filhos de João I de Castela.
§  Isabel, infanta de Castela (nascida em Morales no verão de 1355 e morta em 23 de novembro de 1393) casou-se em Hertford em 1 de março de 1372 com Edmundo Plantageneta de Langley (1341-1 de agosto de 1402), Conde de Cambridge, em 1385 Duque de York, irmão do precedente pois era o 4º filho de Eduardo III de Inglaterra e Filipa de Hainaut. Tiveram três filhos: Ricardo (1375-1415), Conde de Cambridge; Constança e Eduardo Plantageneta (1373-1415); em 1390 Conde de Rutland.
§  Afonso, príncipe herdeiro de Castela (Tordesillas1359-19 de outubro de 1362).
Dos descendentes de Maria Padilha, o primeiro que passou a Portugal foi Pedro Norberto de Arnot e Padilha, que foi Secretário do Paço, na Repartição do Minho. Ele procede deDiogo Miranda de Padilha, que viveu no reinado de Dom Sancho III, de Navarra (994-1035). O segundo de que temos notícia é Lopo Fernandes de Padilha, que, no reinado de Dom Fernando, fez parte da comitiva da princesa Dª. Beatriz, quando de seu casamento com Dom João I de Castela. No reinado de Dom João III de Portugal, foram concedidas cartas de armas: em 30 Abr 1530, a Dom Bartolomeu Fernandez Padilha, escudeiro da casa de Dom João III de Portugal, e em 23 Ago 1532, seu irmão, Dom Francisco Fernandes Padilha, por descenderem dos Padilha de Castela. Na igreja do Convento do Carmo, do lado do Evangelho, logo no princípio da nave, defronte do claustro, foi construído o carneiro de jazida dum fidalgo castelhano, Cristóvão Fernandes Padilha, a quem Dom João III deu o foro do escudeiro fidalgo e o foro de brasão de armas. Esta capela, no séc. XVIII, pertencia ao conhecido autor das Raridades da NaturezaPedro Norberto de Hancourt Padilhacavaleiro fidalgo e escrivão do desembargo do Paço.
O Cavaleiro da Ordem de Sant’Iago Dom Cristóvão Fernandes Padilha, filho de Dom Fernão Soeiro Fernandes Padilhacavaleiro espanhol, casou com Dª. Ana de Miranda, filha de Dom Pedro de Miranda, com quem teve Dom Sebastião Padilha. Este casou com Dª. Filipa Osório, filha de Dom Belchior Osório e de Catarina Henriques. Desse matrimônio nasceu Dom Luís Padilha de Miranda, Cavaleiro da Ordem de Avis e provedor dos Coutos.
Dom Diogo Fernandes Padilha foi pai de Dom Lázaro Padilha, cavaleiro da Ordem de Cristo, que casou com Dª. Maria Ribeiro Salazar, filha de Dom Gaspar Ribeiro de Arévalo, espanhol, e de Dom Francisca Cifuentes de Castela. Deste casamento nasceu Dª. Bárbara de Padilha, que adquiriu matrimônio com seu primo Dom Luís Padilha de Miranda, acima referido, gerando os Haucourt Padilha.

O Assassinato de Branca de Bourbon
O partido político, adverso a Pedro I de Castela, descobre que ele havia se casado, secretamente, com Maria Padilha e exerce pressão política contra o reinado de Dom Pedro I. Don Beltran de la Sierra, núncio do papa, intimou o rei a retomar Branca como sua esposa. O rei, entretanto, preferiu mantê-la afastada, mandando-a de Siguenza para Jerez de la Frontera e, mais tarde, para Medina Sidonia até que em 1361 Branca de Bourbon é envenenada e morta, aos vinte e cinco anos, pelo ballestero Juan Perez de Rebolledo. Muitos historiadores afirmam que o assassinato foi encomendado por Maria Padilha.

A Morte de Maria Padilha
Alguns meses após a morte de Branca de Bourbon, em Medina Sidonia, Maria Padilha morre durante a pandemia da peste bubônica de 1361 e seus restos mortais são sepultados em Astudillo, onde ela havia fundado um convento. Após a morte de Maria Padilha todos os herdeiros, pertencentes à Casa de Padilla, mudaram seus títulos para Padilha.
Dom Pedro I de Castela nunca se conformou com a morte prematura de sua amada, a eterna Maria Padilha, tanto que um ano depois, em uma Corte celebrada em Sevilha, declarou diante dos nobres que sua primera e única esposa havía sido Dona Maria Padilha. Com o Arcebispo de Toledo considerando justas e honrozas as razões que levaram Dom Pedro I de Castela a abandonar Branca de Bourbon, tendo em vista os conflitos com os Franceses, Pedro I deparou-se com uma Corte disposta a ratificar a afirmação de seu rei e assumir Maria Padilha como a legítima rainha.
Com a confirmação de que Maria Padilha foi a única esposa do rei Dom Pedro I de Castela, seus restos mortais foram transferidos para a Capela dos Reis na Catedral de Sevilla.


A história de amor e paixão entre Maria Padilha e o Rei se espalharam por toda a Península Ibérica. Pelos idos de 1700, começou a despertar o interesse das feiticeiras em Lisboa, Portugal, que faziam conjuros e feitiços, invocando Padilha, que participava já em espírito. Algumas dessas mulheres chamadas de bruxas pela Igreja e perseguidas pela Inquisição, foram mandadas à fogueira, outras degredadas para o Brasil, mais especificamente para Pernambuco, e com elas veio à fama de Maria Padilha.


A primeira vez que Maria Padilha se manifestou no Brasil, de acordo com pesquisas feitas pela escritora Maria Helena Farelli, foi num toré, um ritual em que as pessoas buscam remédio para suas doenças e conselhos dados pelos caboclos. Baixou no médium, pediu um cigarro, falou em língua estrangeira e se identificou, gargalhando. Voltou a se manifestar em outras situações, até que descobriu o Maracatu, um cortejo de origem africana, onde identificou na festa uma série de signos e símbolos que a faziam recordar sua Espanha natal. Esta estabelecida de vez a ligação entre os rituais afro-brasileiros e o mito de Maria Padilha.


Padilha incorporou em festas na Bahia e no Rio de Janeiro e hoje baixa em terreiros de todo o País!


Existem sete falanges de Maria Padilha
1. Maria Padilha das Almas
2. Maria Padilha da Encruza
3. Maria Padilha da Boca de Fogo
4. Maria Padilha Sete Saias
5. Maria Padilha Menina
6. Maria Padilha da Calunga
7. Maria Padilha Rainha do Candomblé


Bibliografias Consultadas
§  JAVIERRE, José María. Gran enciclopedia de Andalucía. Ed. Anel. Granada, 1979. (em português)
§  EXUM, Frances Bell.The treatment of Pedro I de Castilla in the drama of Lope de Vega. Ed. University Microfilms International, 1980 (em português)
§  Grande Enciclopédia Brasileira e Portuguesa. Editorial Enciclopédia, 2007. (em português)

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