segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Terrorismo na França: o Raio X de uma tragédia






Assistimos a mais uma atrocidade cometida pelo Estado Islâmico. O Estado Islâmico é uma criação Ocidental. Em quê sentido? O Estado Islâmico é cria de um processo que está em curso há muito tempo: a tentativa de ocidentalização do Oriente. O E.I. se firmou como resultado da Primavera Árabe que é o desfecho de uma intervenção das poderosas nações do Ocidente no Oriente Médio.

Nos limites de meu conhecimento histórico visualizo quatro pontos que merecem atenção nessa análise acerca das tensões entre Ocidente e Oriente Médio. Qualquer um dos meus amigos e amigas historiadores pode analisar melhor ou considerar novos pontos, bem como aprofundar os que aqui exponho:

O primeiro deles é a tensão entre Israel e Palestina pois durante muito tempo a disputa sobre a verdade de um Estado Palestino gera conflitos alimentados por linhas religiosas, sobretudo se levarmos em conta a grande aliança entre Israel e EUA. Aqui a divergência religiosa toma um contorno político, ou melhor dizendo, de política internacional.

O segundo ponto diz respeito ao que foi feito com o Afeganistão e o Iraque depois de 2001. A batalha contra o terror moveu militarmente as potências militares do Ocidente em direção ao Afeganistão e ao Iraque como meio de derrubar as tiranias e caçar os terroristas.

Depois, o terceiro ponto, a chamada primavera árabe, que de primavera passou ao inferno. E o quarto ponto, o drama dos refugiados oriundos das tensões sectárias na Síria. A fusão entre religião e terror, ou entre política e terror alimentado pelo teor religioso ganham cada vez mais consistência e esse fenômeno se firmou no mundo. Diga-se com todas as letras que nunca foi estranho a nenhum de nós a tensão política gerada ou alimentada por um esquema religioso.

A pergunta que devemos responder é porque o Ocidente se vê nessa obrigação de tomar conta do Oriente. Por conta do petróleo é o primeiro ponto, mas a base de pensamento que fundamenta isso é a ideologia de um Estado Cosmopolita oriunda dos EUA e defendida por seus aliados, entre eles a França, é na verdade um combustível a manter o fogo dos diversos níveis e linhas de terrorismo. Por qual motivo o Estado Islâmico atacou a França? Qual o interesse em atacar Paris? O que significa esse evento? Alguns acreditam que o terror pelo terror está em pauta porque o Estado Islâmico seria irracional e nesse sentido, as minhas perguntas não possuem qualquer resposta por se tratarem de perguntas sem sentido. Entretanto, o ataque é a um aliado americano, diretamente envolvido no caos que se gerou no Oriente Médio, e também a um ícone da cultura ocidental.

Objetivamente um ataque à vida de pessoas que não tiveram qualquer chance de defesa, vítimas da barbárie, todavia não percamos de vista que do ponto de vista subjetivo, atacar a França é atacar uma forma de pensar. Sou do parecer de que o ataque à França obedece uma lógica de rejeição a toda a mentalidade ocidental. Se os EUA representam o poderio econômico e militar do Ocidente, a França representa o nascedouro do pensamento livre, do iluminismo, do mundo balizado pela razão, o ataque é contra o legado iluminista de igualdade, liberdade e fraternidade. Ou seja, contra um pensar que marcou a segunda etapa de constituição do pensamento ocidental, posto que a primeira etapa é a cristã. O terror não é uma demonstração de força apenas é uma tentativa de impor um tipo de imaginário, os terroristas querem ganhar as mentes, disseminando o medo por todos os lados.

Os ataques a Charlie Hebdo foram justificados pelos terroristas pelo fato da liberdade proposta pelo ocidente ser uma fraude, uma vez que atenta contra símbolos religiosos. Os zombadores foram punidos de acordo com a mentalidade dos terroristas. E agora, os terroristas também alegam que os méritos são de Alá. Neste sentido, os ataques demonstram uma batalha de mediações: o dito pensar livre do Ocidente e a vontade de Alá. A França é um país diferente na Europa, há em sua população uma grande parcela que se constitui de imigrantes de origem árabe e com isso se torna possível a fixação de células terroristas em território francês. Se já existiam tensões entre a população francesa nativa e a população francesa vinda de antigas colônias, creio que as tensões devem ganhar novas proporções, sobretudo porque a França é o maior destino de imigrantes e refugiados na Europa. Os ataques orquestrados tinham como finalidade espalhar o terror e também atingir o berço de um tipo de pensamento que diretamente atinge a realidade presente no mundo árabe.

A isto se soma o fato de a França ser umas das nações que apoiam e até mesmo participa diretamente do processo militar presente no Oriente Médio sob tutela americana. O atual governo francês admitiu, ano passado que armou grupos rebeldes que se opõem ao poder na Síria. A França fez parte do processo que instalou o caos na Líbia em nome de uma democracia que jamais chegou. Neste sentido, a pregada tolerância se desmancha em uma práxis intolerante e excludente. Não faz tanto tempo e não pode se apagar de nossas memórias a dificuldade gerada pelo governo francês no trato dado aos ciganos em seu território. Atacar a França, tem em si esse significado. A tensão gerada na Europa inteira mediante o drama dos refugiados, e o debate acerca das fronteiras e do seu controle lançou uma crise relacional entre os países do velho mundo.

A Alemanha por exemplo, na tentativa de se posicionar como mediadora e a Inglaterra impondo o debate sobre o controle das fronteiras como critério para renegociar sua posição na União Europeia, a Polônia católica deixando claro que só acolheria refugiados cristãos, o Papa pedindo que se acolhessem os refugiados, são sinais da tensão de pensamento acerca do que fazer com milhares de pessoas que são vítimas do terror. Sobre o terror vale ressaltar que 700 mil refugiados chegaram à Europa em 2015 vindos do Oriente Médio e do Norte da África e que se acredita que em 2017 serão não menos que 3 milhões de seres humanos clamando por refúgio.

O terror do qual elas desejam fugir e que chegou a eles mediante a política internacional das potências ocidentais que sempre se viram como detentores dos rumos da história, não possui fronteiras e nem limites pois o fechamento das fronteiras francesas é simbolicamente demonstração de que o medo se impôs à França e que este mesmo medo fruto de equívocos das potências econômicas ocidentais se espalhará por toda a Europa. E a Europa não sabe como enfrentar o mal do qual ela tem também responsabilidades e que mostra para ela sua face com tanta impiedade.

Vidas humanas ceifadas são perdas irreparáveis, histórias interrompidas e famílias dissolvidas pela perda de um ente querido, entretanto, devemos ser um tanto criteriosos a admitir que isso todo o mundo está em perigo e esse perigo é consequência de um desastre político/militar financiado por muitas nações, também e infelizmente financiado pela França. Choramos há algum tempo pelo menino sírio morto na areia da praia. Aquele terror é fruto de uma desastrosa mentalidade intervencionista ocidental e que se volta agora contra quem a postulou. Agora com as vítimas do terror ocorrido na França e com certeza não vai parar por aí. Assim. infelizmente talvez tenhamos que conviver muito tempo com tamanho terror!

Para que você entenda o que falo, sugiro essas reportagens:

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150926_ataque_franca_ei_lgb

http://noticias.terra.com.br/forca-aerea-da-franca-ataca-posicoes-do-ei-na-siria,4a2033245207b0e4009d141c72776a53fhlemubu.html

http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2015/09/franca-e-gra-bretanha-abrem-caminho-para-bombardear-estado-islamico-na-siria-4842505.html

http://www.marchaverde.com.br/2015/11/a-franca-esta-de-joelhos-diante-do.html

Fonte: http://atravessiadassombras.blogspot.com/

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