sábado, 28 de setembro de 2013

Pomba Gira Maria dos Cais



História Maria do Cais
(Pela médium Dani Brites)
Minha mãe já era prostituta nos chamados cabarés, morreu jovem de DST, deixando 3 filhos, entre eles eu, Maria.
Fui morar com uma tia que me rejeitava devido a vida que minha mãe levava, sempre dizendo a mim que “a fruta não cai longe do pé”. A tia sempre me usava como empregada e me maltratava. Fui violentada pelo filho dela aos 12 anos. Onde decidi fugir.
Fiquei vagando muito tempo nas estradas, pegando carona com caminhoneiros. Já não era mais inocente e para sobreviver segui a vida de minha mãe.
Nessas andanças me apaixonei pelo mar, na verdade me apaixonei pelo que o mar podia me trazer, homens de vários lugares e nacionalidades. Como gostava de viajar, sonhava em um dia ir para o estrangeiro com algum desses homens que conhecia, o qual nunca aconteceu!
As promessas eram muitas (ao longo dos anos aprendi que os homens eram apenas galanteadores), sempre ganhava presentes, o que mais gostava de ganhar eram sapatos, de preferencia de salto alto. Apesar de achar uma dama, sempre falava muito palavrão, besteiras sobre safadeza.
Não era de beber muito, pois só aceitava bebidas oferecidas pelos homens. Minha bebida preferida é a Vodka, mas geralmente bebia aguardente porque era isso que eles bebiam. Um ou outro satisfazia a minha ilusão do que era ser chique.
Por ter dificuldade em ter amigas mulheres, nunca fui de frequentar lugares como minha mãe. Sempre arranjava encrenca nesses lugares por falar o que pensava e muitas vezes falar de forma grosseira e certeira.
Adorava perambular pelo cais do porto, por isso meu apelido de MARIA DO CAIS. Vivia nos bares a beira da praia dos pescadores. Vivia muito a base de trocas de favores e presentes. Conheci muitos homens, que de meses em meses voltavam a me procurar como as ondas do mar, num ir e vir, eu sabia que eles sempre voltavam.
Estabeleci minha moradia ali, conheci o amor da minha vida através do mar. Se saísse dali, como ele poderia me encontrar novamente?
Conheci um comandante de navio, o qual me apaixonei! Ele me tratava diferente dos outros homens, mostrando um carinho e uma preocupação por mim que jamais tive. Sabia que era loucura porque nunca sabia quando ele retornaria a me ver. A maioria deles tinha família inclusive o meu comandante.
Ficava a espera por ele meses e meses. Era dele que ganhava boa parte dos meus sapatos. Meus sapatos tinham muito significado para mim, pois eram presentes do meu amor! Em sua ausência, eram eles que me restavam como lembrança de momentos com ele e da esperança da chegada dele.
Nunca tive filhos, era seca. Tinha muita raiva por isso, achava que através de um filho com ele, ele poderia abandonar tudo e ficar comigo.
Meu amor por ele era sofrido demais, ele demorava muito tempo pra retornar até o dia que ele não voltou mais. Fui perdendo o ânimo pela vida, não queria saber mais de outros homens, não queria saber mais de comer! Fui me tornando uma pessoa infeliz e amarga ao ponto de afastar quem chegava perto de mim com palavras. Gritava tanta besteira, rogava praga aos navegantes de tão amargurada estava. Me fechei num mundo só meu e meus sapatos!! Não via o que estava fazendo a mim mesma, me impedindo de ser feliz!
Tinha tanta raiva por ter sido abandonada, que joguei meus sapatos no mar, tentando fazer uma troca com Iemanjá!
Morri, apodreci por dentro com todos os sentimentos ruins que uma pessoa podia ter, me matei aos poucos por causa de um amor que mais tarde, depois que desencarnei, descobri que ele também tinha desencarnado por causa de doença, de tuberculose!
Simplesmente cultivei o que tem de mais nocivo ao ser humano: sentimentos de ódio, amargura, tristeza, solidão.
Todos esses sentimentos fui eu mesma que cultivei, olhei apenas pro meu egoísmo, não fui abandonada. Ele morreu! Mas não conseguia ver isso, me ceguei! Me tornei uma pessoa ruim com os outros que queriam me ajudar. Entristeci, não me arrumava mais, parecia uma mendiga no final dos tempos, só tinha osso, quando antigamente os homens ficavam loucos por causa do meu corpo. Não me banhava mais com meus perfumes do estrangeiro, joguei tudo no mar na esperança de Iemanjá me trazer o meu homem! Achava que Iemanjá queria meu homem, até isso cheguei a pensar, que absurdo!! Costume que os encarnados têm de culpar nossos orixás, a Oxalá pelas desgraças da vida.  
Temos que aprender com as nossas escolhas, eu mesma afastei várias oportunidades de ser feliz, fechando meus olhos para outros homens que queriam o meu bem.
A dor do amor é uma das piores dores que um homem pode sentir. Dói demais!! Mas dói se vc permitir que doa, a vida é como o mar, num ir e vir!! Ninguém é de ninguém, as pessoas tornam as outras pessoas como parte de si, e as coisas não são assim, nada é eterno! Quando os encarnados entenderem isso, as dores serão menores. Nem nós desencarnados somos eternos, nos tornamos encarnados e desencarnados novamente, numa propósito de evoluir.
A vida e a morte são um aprendizado constante!!

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