quinta-feira, 22 de maio de 2014

Davi x Golias na Terra de Golias

Todo Umbandista e adepto ao Candomblé deveria ler...




Depois que o juizão jogou pra torcida e considerou plenamente aceitável oferecer banana para um negro dentro de um "contexto humorístico", um novo episódio do racismo à brasileira deu as caras nos tribunais. Dessa vez, o juiz Eugênio de Araújo polemizou ao negar o caráter religioso dos cultos afro-brasileiros.
A leitura desse trecho da sentença faria sucesso na Marcha da Família:
"ambas manifestações de religiosidade (#umbanda e #candomblé) não contêm os traços necessários de uma religião a saber, um texto base (corão, bíblia etc), ausência de estrutura hierárquica e ausência de um Deus a ser venerado. (...)
As manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem em religiões"
A decisão foi em resposta a uma ação do Ministério Público Federal, que solicitou a retirada de vídeos do Youtube que reproduzem o preconceito contra as religiões afro-brasileiras. Nas imagens, pastores neopentecostais aparecem associando os cultos de origem africana ao "diabo", a "demônios" e a todo o mal que eles possam representar. Para o magistrado, a umbanda e o candomblé devem ser encarados apenas como folclore, já que não possuem um "texto base", uma "estrutura hierárquica" e um "Deus a ser venerado".
Segundo critérios inventados pelo juiz, é condição fundamental a existência de um livro para determinar a legitimidade de uma religião. Esqueça a tradição oral que dá base para diversas outras religiões espalhadas pelo mundo. Esqueça a tradição oral cristã que precedeu a bíblia. Esqueça tudo o que você já leu sobre o assunto. As definições de religião foram atualizadas pelo juizão.
Já o neopentecostalismo brasileiro não tem com que se preocupar. Institucionalmente reconhecidas, suas igrejas desfrutam de suntuosos templos e estão fortemente representadas na política nacional. Além de possuírem um "livro base" e uma eficiente estrutura hierárquica, contam com um incrível sistema de captação de recursos, que movimenta milhões e enriquece os que estão no topo da hierarquia.
Para reforçar o caráter religioso dos neopentecostais, seus líderes costumam comprar espaços na TV (alguns compram uma emissora inteira) para disseminar suas livres interpretações do livro sagrado.Todo esse império religioso, construído com a ajuda de isenção de impostos garantida por lei, continuará livre para produzir vídeos difamatórios contra seus concorrentes dentro do mercado religioso. O juizão mandou seguir o jogo!
Umbanda e candomblé não têm programas na TV, não possuem uma rede eficiente de captação de recursos, não têm partido próprio, não elegem pencas de políticos em todas as eleições e não demonizam outras crenças. Mesmo assim, segundo estudo recente, houve um enorme aumento de casos de violência contra essas religiões nos últimos 20 anos. Coincidentemente ou não, este foi também o período de maior crescimento do neopentecostalismo.
A intolerância se multiplicou de tal maneira, que até traficantes evangélicos têm expulsado terreiros dos morros, muito provavelmente motivados por discursos fanáticos como esse:
Esses últimos casos mostram que grande parte da Justiça brasileira está em perfeita harmonia com o preconceito dos setores mais reacionários da sociedade. Nessas batalhas entre Davi x Golias, está claro que a tendência é que as instituições atuem a favor de Golias.
Então, ficamos assim: está liberado oferecer bananas para negros dentro de um contexto humorístico, assim como ficam autorizadas as igrejas neopentecostais a utilizar uma concessão pública para atacar as religiões de raiz africana.
E viva o Estado laico e a democracia racial brasileira!
PS: após a repercussão do caso, o juiz voltou atrás da afirmação e confirmou que umbanda e candomblé são religiões. A sentença foi mantida e os vídeos continuam no ar.

Fontes:

br.noticias.yahoo.com

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